18.5.05

Os Sapatos de Mia Couto

O Sr. Sebastião enviou-me uma missiva esta semana. Como o título incluia sapatos sujos calculei que fosse outra ode tasco-viperina sobre os malefícios da economia neo-liberal e a cabala internacional que anda a minar a nossa indústria do calçado e a lançar crianças imberbes para os bancos de escola. Por sorte não era esse o conteúdo mas ficou por perto. Eis a dita (espero que isto não tenha sido retirado de um outro blog, em todo o caso...).

O escritor moçambicano, também licenciado em Medicina e Biologia, fez uma oração de sapiência, em 7 de Março, na abertura do ano lectivo do Instituto Superior de Ciências e Tecnologia de Moçambique. Excertos desta oração foram publicados no Courrier Internacional, nº. 0, de 2 de Abril. Destacamos, Os Sete Sapatos Sujos:

"Não podemos entrar na modernidade com o actual fardo de preconceitos. À porta da modernidade precisamos de nos descalçar. Eu contei Sete Sapatos Sujos que necessitamos deixar na soleira da porta dos tempos novos. Haverá muitos. Mas eu tinha que escolher e sete é um número mágico:

- Primeiro Sapato - A ideia de que os culpados são sempre os outros;
- Segundo Sapato - A ideia de que o sucesso não nasce do trabalho;
- Terceiro Sapato - O preconceito de que quem critica é um inimigo;
- Quarto Sapato - A ideia de que mudar as palavras muda a realidade;
- Quinto Sapato - A vergonha de ser pobre e o culto das aparências;
- Sexto Sapato - A passividade perante a injustiça;
- Sétimo Sapato - A ideia de que, para sermos modernos, temos de imitar os outros."

Boa, Mia. Estamos contigo!