8.1.06

A Casa Sentida


Coincidência não existe em arquitectura. Independentemente dos meios de comunicação usados, numa casa sentida, temos a sensação persistente que estamos em posse de algo real cedido pelo ritual, uma liturgia, de criar arte ou inteligência. Primeiro o corpo. Não. Primeiro o lugar. Não, primeiro ambos. Agora nenhum. Agora o outro. Somos cegos. O mais importante são as pequenas coisas. A nossa vida de pequenas coisas. O esquecimento da permanência. Recordamo-nos de um eclipse do sol, mas o seu percurso quotidiano não é excepcional e não deixa marcas na nossa memória. Por isso posicionamo-nos no vazio. Na casa vazia. No espaço entre paredes. Se o espaço é infinito, estamos em qualquer ponto do espaço. Esquecemos as horas. O tempo dorme no alpendre. Se o tempo é infinito, estamos em qualquer ponto do tempo. A espera, espera. Ela mesmo se espera, deixa ser por si. A contínua e longa - espera. Mas, espera! Algo se mexe. Algo sempre se esteve mexendo. As horas, as horas não são imóveis. Uma vez abolido o palco, o ritual ocupará o centro da platéia.

Para a Margarida, com amor.